terça-feira, 8 de maio de 2012

Para nossa alegria, Alexandre Henderson e a imagem midiática do negro no Brasil

A imagem do negro na mídia brasileira está conformada e condicionada a certos padrões. Choca, ao ver na TV, negro(a) bem sucedido ou casado(a) com outro que não seja negro(a); causará estranheza o fato de que em uma propaganda daquele carro de luxo que é seu sonho de consumo, ao final, sair um negro da direção do mesmo, ou ainda que em momento algum você verá na Globo uma consultora de moda negra falando ao  Jornal Hoje dando dicas de moda, por exemplo.

A estigmatização é tão forte no cotidiano que, ao apresentarmos um amigo nosso que seja negro, involuntariamente nos apressamos em seguida a dizer sua profissão ou sua condição ou fator que justifique nossa amizade com ele, ao passo que poderíamos dizer simplesmente "este(a) é meu amigo fulano(a)".

A tirada para o mundo dos memes da dupla de irmãos, hoje chamada de Para Nossa Alegria, reside justamente no fato de serem "engraçadamente" negros e "humildes", não menos do que isso. Essa é a condição que lhes cabe, segundo o imaginário cultural brasileiro e os comentários nos vídeos do youtube. E para ratificar isso, ou seja, confirmar com todas as letras e entrelinhas de que é isso mesmo, é assim que pensam a mídia e sua massa, lançaram novo vídeo na internet (veja aqui http://www.youtube.com/watch?v=WnYQYK94M80&feature=player_embedded ) onde letra deixa bem claro o porque disso.

O outro lado desse sintoma cultural é a de o negro não se perceber como dentro do padrão socialmente aceito  para qualquer ser humano comum. A começar que, invariavelmente, um negro olhará outro negro que seja, quando estiver num restaurante, num shopping, ou passando bem vestido e altaneiramente lendo seu jornal matinal pela rua. Esse olhar, não é aquele despreocupado: é algo culturalmente involuntário e com a ponta de admiração em ver que ultrapassaram o padrão social midiático imposto. É difícil, na maioria das vezes, até mesmo as suas crianças se estabelecerem fora desse patamar pois a carga de condicionamento sobre elas é ainda maior (veja exemplo em http://www.youtube.com/watch?v=pgCkC1BultQ ).

Não escapou disso o nosso apresentador Alexandre Henderson, em entrevista no Jô Soares. O que se esperava dali, pelo fato de Alexandre apresentar um programa sobre o saber e conhecimento de alto nível, era que o papo, além do particular, transcorresse no patamar esperado para o trabalho que desenvolve. Ledo engano. O entrevistado, num arroubo de de sentimento de se "desculpar e agradecer" pelo fato de estar ali e fazer o que faz, externou em nível máximo a exaltação de que subjetiva de que "gente, sendo negro e passar por tudo que passei, tô aqui viu!", ao passo que, visivelmente frustrado por não ser mais frutífero o papo esperado e anunciado, Jô soares teve de interromper esse turbilhão e encerrar a entrevista, onde nem mesmo, na multidão de palavras do entrevistado, conseguiu ter respostas objetivas às perguntas feitas, como a qualquer um que ali vai.

Sinceramente e desoladamente, não sei e não sabemos quando isso realmente vai mudar. O ódio sobre as cotas não é sobre privilégio social, é sobre o "racial" mesmo, pois vai contra o que midiaticamente estamos propensos a ver: vê-los a pé, vê-los suando, vê-los fedendo, vê-los como empregadas domésticas, vê-los como braçais, vê-los como malandros, vê-los como perigosos e mudar de calçada e/ou segurar sua bolsa, vê-los como indesejáveis e ficar em pé mesmo que no ônibus só tenha aquele lugar ao lado dele, vê-los como sujos ao apertar a sua mão e vistoriá-la visualmente antes de apertar ou não deixar que no aperto a palma da sua encoste totalmente na dele, vê-los como intrusos num restaurante de luxo, vê-los sempre como privilegiado dentro de sua sala de aula em medicina ou direito, vê-lo como impossível diretor daquela conceituada escola onde você matriculou seus filhos.

Não sabemos quando.