sábado, 19 de maio de 2012

DROGAS: O PRAGMATISMO PODE RESOLVER O PROBLEMA?


Recentemente a revista ALFA publicou texto em seu site, escrito pelo meu amigo Cláudio Manoel dos Santos (o Maçaranduba do Casseta & Planeta), onde aborda o problema das mortes ocasionadas pelo consumo do álcool versus mortes de usuários de drogas. O texto, intitulado "DUAS MORTES, DUAS MEDIDAS" (clique aqui e leia), disserta a ótica "imparcial" dos pró-liberação das drogas ilícitas a fim de vencer a guerra contra ela e da preocupação com a impunidade de quem mata no trânsito.

Cláudio Manoel defende bem a tese de que deixar os viciados em drogas morrerem a morte imposta pelas políticas adotadas atualmente é sim massacre legalizado, velado e sem remorsos. Só que a base para o raciocínio circular, ali no texto, é um tendão de Aquiles gravemente frágil: o pragmatismo. Já explico o que é isso.

Se saio pelas ruas do Rio a catar várias garrafinhas de água mineral vazias e as encho de água da torneira e depois passo a vendê-las nos cruzamentos da cidade, dará certo. MAS NEM TUDO O QUE DÁ CERTO É O CERTO A FAZER. E é justamente esta a essência do pragmatismo atual: faça o que dá certo, sendo certo ou não. A idéia é considerada verdadeira se funciona. Mas no caso do texto em questão, Cláudio Manoel usa o utilitarismo, onde se afirma que o curso de ação correto é o que trouxer maior benefício, neste caso, a liberação das drogas para se diminuir drasticamente as mortes de usuários por causas das repressões e instrumentos de coibir a sua difusão.

Mentir pode ser benéfico para evitar um mal ou atingir um determinado benefício às custa de outrem ou de outra coisa, mas os resultados nunca tornarão as mentiras em verdades. A filosofia ética também confunde causa com efeito. Uma idéia não é verdadeira porque funciona; ela funciona porque é verdadeira. E como vamos julgar o que "deu certo" então? 

Neste texto, subjetivamente, usa-se estatísticas para explicitar argumentos, ou seja, apenas o conhecimento prático é tido como verdadeiro; apenas os métodos científicos testam a verdade e é o que está por trás dos argumentos também. Isso, aparentemente, torna absoluto e sem reservas o método de comprovações, verificações e dissecação do problema. No entanto, no que tange a preocupações éticas, mortes no trânsito por alcoolemia, ou consequência dela, e mortes de usuários de drogas, ou não, consequentes de políticas repressivas, não tem critério objetivo como há na ciência. O sucesso do resultado obtido assim só poderá ser determinado por uma perspectiva subjetiva, pessoal e míope.

É notório que agora virou moda, por exemplo, super heróis assassinarem mortais no trânsito (Thor que o diga...) e nada, simplesmente nada à altura do dano causado, ser imposto ao infrator. A vítima simplesmente foi vítima, do acaso, da fatalidade,  e "nada se pôde fazer". Nada, até a primeira latinha de bebida alcóolica, que já altera em muito o estado de alerta de qualquer condutor responsável, ser tomada. Até ali, ainda era possível se fazer algo. É vergonhoso ao extremo ter a reputação de um Eike Batista manchada pela comprovação de que sua educação, se for a das melhores, não foi passada ao filho e, se foi passada, não é a das melhores.

Só de chegar perto, faremos juízo de valor de quem consumiu bebida alcóolica. Mas quantos de nós, sejamos sinceros, de verdade, quantos de nós abraçamos todos os dias, por exemplo, nosso(as) filhos(as) e, de tão corriqueiro ser este ato, perceber que há algo errado no ar, a ponto de perceber que ele(a) não está no seu normal? Na sua grande maioria, A DROGA NÃO TEM CHEIRO. Quantos de nós, ao contrário do Facebook, Twitter, Orkut, etc. , estamos regularmente presentes nas vidas desses inúmeros amigos e parentes, a ponto de fazer uma pergunta simples e visual que pode salvar a vida: FULANO(A), VOCÊ ESTÁ BEM? Fazer isso dá trabalho. Dá "problema". Incomoda. Toma tempo.

A abordagem da percepção do problema DROGAS ILÍCITAS exige, de quem realmente quer se preocupar, uma atitude mais que científica: ela exige algo moral. E essa moral relacional muitas vezes custa e custou caro, e por isso se faz presente a DROGA, pois o indivíduo está procurando novas pontes de relacionamento destruídas pelos muros erigidos silenciosamente. Esse é o primeiro contato e diagnóstico. Nem sempre vem com orgulho: a vergonha é a prima pobre dessa situação e ao lado dela, ninguém quer andar ( que o diga a polícia e o Governo de São Paulo ao expulsar a crackolândia do mapa). Veja bem, a utopia reside na inércia de quem lê isso e nada faz, e não em quem grita e quer mudar.

Então, porque não conseguimos vencer as batalhas contras as drogas, devemos entregar nossos(as) filhos(as) a uma mesa de rodada de psicotrópicos? Que juiz permitiria que alguém fizesse o seguinte gracejo como juramento: "O QUE FOR CONVENIENTE, TODO O CONVENIENTE, NADA MAIS QUE O CONVENIENTE" ? Você permitiria? São os seus que estão em jogo.

Porque não conseguimos vencer a batalha contra a corrupção no governo, criemos uma lei que determine quantos por cento cada um pode roubar; porque não conseguimos vencer a luta contra a pedofilia, determinemos quantas crianças poderão ser estupradas por cada pedófilo em cada orfanato, escola, favela, família, festas, etc.; porque não conseguimos vencer a luta contra a criminalidade, liberemos a faixa etária para maior para que indivíduos que fazem roubos e assassinatos tenham tempo de se regenerar. São absurdos, são sim. Mas estou usando a lógica pragmática.

As políticas repressivas usadas atualmente para coibir e mitigar a difusão das drogas no Brasil é algo grotesco mesmo. Estamos longe de estar perto dos cem por cento de vigilância e repressão em fronteiras, escalões do governos, polícias e instituições; mas ao mesmo tempo a estrutura de saúde, educacional, laborial, legal, social, religiosa, moral e básico-familiar não existe para permitir o luxo de dizer: HOJE, SÓ É USUÁRIO DE DROGAS QUEM QUER.

Meu amigo Cláudio Manoel, parabéns pela preocupação e cosmovisão lúcida do problema. Mas o debate ainda vai longe.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O HOMEM DO FUTURO - Com Wagner Moura e Aline Moraes


Indico aos meus leitores uma dica de filme brasileiro genial: O HOMEM DO FUTURO. Fala sobre um grande cientista que numa tentativa de criar uma nova forma de energia acaba descobrindo um meio de viajar no tempo. Daí decorre a trama que fala sobre o amor duradouro, mudança do passado e o que poderíamos ser. O mais legal é vê-los cantando a música TEMPO PERDIDO, do Legião Urbana! Vale a pena assistir!

O filme completo, além das locadoras, pode ser encontrado no youtube.

Veja o clipe em : http://www.youtube.com/watch?v=jmkCk5EmSG0&feature=relmfu

terça-feira, 8 de maio de 2012

Para nossa alegria, Alexandre Henderson e a imagem midiática do negro no Brasil

A imagem do negro na mídia brasileira está conformada e condicionada a certos padrões. Choca, ao ver na TV, negro(a) bem sucedido ou casado(a) com outro que não seja negro(a); causará estranheza o fato de que em uma propaganda daquele carro de luxo que é seu sonho de consumo, ao final, sair um negro da direção do mesmo, ou ainda que em momento algum você verá na Globo uma consultora de moda negra falando ao  Jornal Hoje dando dicas de moda, por exemplo.

A estigmatização é tão forte no cotidiano que, ao apresentarmos um amigo nosso que seja negro, involuntariamente nos apressamos em seguida a dizer sua profissão ou sua condição ou fator que justifique nossa amizade com ele, ao passo que poderíamos dizer simplesmente "este(a) é meu amigo fulano(a)".

A tirada para o mundo dos memes da dupla de irmãos, hoje chamada de Para Nossa Alegria, reside justamente no fato de serem "engraçadamente" negros e "humildes", não menos do que isso. Essa é a condição que lhes cabe, segundo o imaginário cultural brasileiro e os comentários nos vídeos do youtube. E para ratificar isso, ou seja, confirmar com todas as letras e entrelinhas de que é isso mesmo, é assim que pensam a mídia e sua massa, lançaram novo vídeo na internet (veja aqui http://www.youtube.com/watch?v=WnYQYK94M80&feature=player_embedded ) onde letra deixa bem claro o porque disso.

O outro lado desse sintoma cultural é a de o negro não se perceber como dentro do padrão socialmente aceito  para qualquer ser humano comum. A começar que, invariavelmente, um negro olhará outro negro que seja, quando estiver num restaurante, num shopping, ou passando bem vestido e altaneiramente lendo seu jornal matinal pela rua. Esse olhar, não é aquele despreocupado: é algo culturalmente involuntário e com a ponta de admiração em ver que ultrapassaram o padrão social midiático imposto. É difícil, na maioria das vezes, até mesmo as suas crianças se estabelecerem fora desse patamar pois a carga de condicionamento sobre elas é ainda maior (veja exemplo em http://www.youtube.com/watch?v=pgCkC1BultQ ).

Não escapou disso o nosso apresentador Alexandre Henderson, em entrevista no Jô Soares. O que se esperava dali, pelo fato de Alexandre apresentar um programa sobre o saber e conhecimento de alto nível, era que o papo, além do particular, transcorresse no patamar esperado para o trabalho que desenvolve. Ledo engano. O entrevistado, num arroubo de de sentimento de se "desculpar e agradecer" pelo fato de estar ali e fazer o que faz, externou em nível máximo a exaltação de que subjetiva de que "gente, sendo negro e passar por tudo que passei, tô aqui viu!", ao passo que, visivelmente frustrado por não ser mais frutífero o papo esperado e anunciado, Jô soares teve de interromper esse turbilhão e encerrar a entrevista, onde nem mesmo, na multidão de palavras do entrevistado, conseguiu ter respostas objetivas às perguntas feitas, como a qualquer um que ali vai.

Sinceramente e desoladamente, não sei e não sabemos quando isso realmente vai mudar. O ódio sobre as cotas não é sobre privilégio social, é sobre o "racial" mesmo, pois vai contra o que midiaticamente estamos propensos a ver: vê-los a pé, vê-los suando, vê-los fedendo, vê-los como empregadas domésticas, vê-los como braçais, vê-los como malandros, vê-los como perigosos e mudar de calçada e/ou segurar sua bolsa, vê-los como indesejáveis e ficar em pé mesmo que no ônibus só tenha aquele lugar ao lado dele, vê-los como sujos ao apertar a sua mão e vistoriá-la visualmente antes de apertar ou não deixar que no aperto a palma da sua encoste totalmente na dele, vê-los como intrusos num restaurante de luxo, vê-los sempre como privilegiado dentro de sua sala de aula em medicina ou direito, vê-lo como impossível diretor daquela conceituada escola onde você matriculou seus filhos.

Não sabemos quando.